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Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Depósitos a prazo já não rendem quase nada. Nem mesmo para contas bem recheadas. Estão tal e qual o meu cérebro: cheio de pensamentos que me rendem poucochinho. Nem as contas, nem o que penso, já nada tenho a prazo. Não quer isto dizer que pense rumo ao infinito, apesar das infinitas coisas que penso. Seria mais justo falar que penso em micro prazo. Sou um jogador de futebol sem bola. Jogo a jogo, jola a jola. Beber uma imperial a mais, ou treze, é pensar a micro prazo. É (...)
“Não assobies à noite. Isso chama as cobras.” E é por isso que eu não o faço. Não quero que as cobras achem que eu as chamo, nem que venham atrás de mim. Também não quero saber se é só mito ou verdade, mas lembro-me sempre dela quando assobio e páro no segundo a seguir. Mesmo que seja de dia. Talvez a minha avó tenha inventado isto só por não gostar do barulho. Se foi esta razão, respeito para toda a vida. Inventar mitos, destes inofensivas, pode ser o meu próximo hobbie (...)
Será que já algum incêndio foi provocado por uma produtora de papel que tinha adjudicado as próximas eleições portuguesas e não teve tempo de deixar crescer as árvores? Fica a questão para a qual não interessa a resposta. Pelo menos, não por agora. Agora que o governo caiu e as eleições estão marcadas para daqui a dois meses, venho como independente fazer campanha pela ausência delas. Das campanhas, dos outdoors, das bandeiras, dos panfletos, das cartas no correio, mas não (...)
Poucos são os dias em que as rotinas são tantas e tão diferentes. Para quem trabalha das 9h às 18h, de segunda à sexta, o domingo é o dia em que podemos experimentar como é a vida de um nómada digital em Portugal. Com carteira de português. Eu sou desse rebanho que tenta ser útil 5 dias por semana, útil a quem me paga para o ser. Também paga quando não sou. É uma relação esquisita, uma cena capitalista. Não é uma questão de fé, mas trabalho todos os dias como quem vai (...)
Fazer anos é uma espécie de casamento sem par. É a oportunidade para estar junto das pessoas que mais gostamos, principalmente das que vemos menos. É como um funeral, a única diferença é que também estarei presente, mas tal como em muitos outros eventos, estou distraído e não ouço nada. O jantar de aniversário fica entre o casamento e o funeral. Não há tantas desculpas para convites que puxam pela culpa de não faltar a uma “data importante”. Para faltar a um funeral, (...)
O despertador cria rotinas, mesmo que toque todos os dias a minutos diferentes. Em princípio, a hora é sempre a mesma. Pode falar-se que o despertador “desperta a dor”, mas só para quem se deita com ela e não a tem enquanto dorme. Prefiro ver o despertador como algo que “desperta a vida”. Meio metafísico, eu sei, mas só quem morre é que não acorda. Curiosamente, o som do despertador também pode dar vontade de matar alguém. Pormenor que gosto: quando se configura o (...)
Gosto de exercício, do conceito de fazer, não tanto de me mexer. Mas como preciso de me manter ativo para não acabar numa cama, tenho procurado o espaço e o estilo que me motive mais que a sina de acabar a vida numa cadeira de rodas. Sim, porque esse destino mexe-me me tanto como eu me mexo. Pouco. Tentei ginásios, vários, muitos. Demasiados, na verdade. Perto de casa, a caminho do trabalho. Até fora de mão. Com o entusiasmo natural de quem começa algo novo e com a rigidez de uma (...)
“Deixei isso na outra mala” é algo que ainda não me saiu da boca. Maioritariamente porque só tenho uma, bolsa, que apenas troco em desespero de causa. Ainda assim, conheço bem o sentimento. Por outras palavras, “deixei isso nas outras calças”. Os bolsos das calças, para mim, são meramente ilustrativos, excepto para guardar o passe. Não ando sempre com as mesmas, mas quando as repito de um dia para o outro, sabe bem saber que o passe já vem incluído e que não será (...)
Em princípio, estamos sempre em evolução, sempre atrás da melhor versão. Mas só mentalmente até porque, fisicamente, este meu corpo já “foi chão que deu uva”. Uva passa, e mesmo assim, pouca. Não foi esta a motivação, de ver se o meu corpo ainda dá uva, mas sim para ser levemente menos sedentário andei a experimentar novos desportos e tipos de exercício até me dedicar ao yoga. Fui procurar flexibilidade física, quiçá mental, mas é na língua que estou muito mais (...)
Tenho teorias linguísticas pensadas, outras saem à pressão. São como cerveja, tenho uma para todos os desgostos. Muitas delas são baseadas em preguiça mental, semelhante à preguiça que me tem atrasado a mim a escrever as crónicas que gosto de publicar às segundas-feiras, às 8h da manhã. É uma forma gira de começar a semana, de ver alegria no dia que tanta gente odeia. Eu gosto. E não é por ser do contra, mas também não sei porque é que é. E depois deste chouriço mal (...)