Pouco na vida me deixa tão feliz como escolher ficar em casa depois de um período fora. Não vibro entusiasticamente com a energia de quem gosta de aproveitar tudo a toda a hora até ao último suspiro, quando no fundo também é isso que faço. À minha maneira.
Demorei a descobrir o encanto de ficar o último dia de férias em casa, fechado dentro das minhas paredes, a matar as saudades de um sofá que não vai a lado nenhum. Demorei a perceber o prazer de quem se organiza para (...)
Gosto muito de cães. Tanto quanto o medo que tenho deles. Mas há excepções: cães que adoro e com quem brinco, nunca tanto que possam parecer meus. Fobias à parte, eu quero é que os cães sejam felizes, mesmo quando isso implica perder a minha liberdade.
Imagino que este medo seja pouco comum, já que o espanto é quase tão grande como ser português e dizer que não gosto de queijo. Aceita-se melhor que este medo que preferia não ter.
Não interessa se ladra ou não. A cada (...)
Gosto de ver futebol e filmes da mesma forma, sozinho em casa. Há excepções, claro, para amigos, amores e família, mas em todas elas há muito mais que apenas “ver o filme”, ou o jogo, mas só tenho conclusões para a primeira opção.
“Ver o filme” com aspas, mas não pelas razões habituais. Não há segundas intenções no meu sofá. As aspas é para representar a impossibilidade de ir ao cinema e apreciar a arte na tela. E não, as aspas também não são para segundas (...)
Um dia disse que não queria mais amigos, que já tinha tempo a menos para o quanto gosto de cada um. Hoje, vejo ao longe a ignorância gritante dessa minha frase. Acho que acreditava nela. Pelo menos até ser atropelado pelo amor de uma amizade nova.
As amizades não se procuram, acontecem. E mesmo que se procurem, são muito mais aleatórias que premeditadas. É uma espécie de engate inesperado, o oposto do que se quer numa relação amorosa.
Já mudei várias vezes de trabalho, mas (...)
Gosto de esperar por coisas: consultas, autocarros, aviões, pessoas. Gosto de esperar quando sei que é apenas uma questão de minutos. Ou horas. Cada espera é uma oportunidade para me agarrar ao livro que levo comigo. Raramente espero, porque não sou pontual, mas nunca ando sem livro.
A vida é muito acelerada para me deixar parado a ler. É algo que faço com muito gosto, não tanto quanto queria, até porque não sei ler em casa (...)
Gosto de palavras. De dizer. De escrever. Mas há imagens que valem mais que mil palavras, só não sei quanto vale o meu olhar. E por mais óbvio que seja, como te vejo, só não sabes se não quiseres. Eu bem te olho, mas quase sempre de óculos de sol.
Há quem tenha o coração na boca. O meu salta à vista. Não deixo que o sentimento me fuja por entre os dentes, mas tenho sempre as emoções à flor da íris. Seja no que quero dizer, ou no que ouço, sinto muito não reagir tanto (...)
Esta crónica não é sobre os meus hábitos de leitura na poltrona. Até porque isso só faço em casa. Nem sobre a que escrevo, até porque tenho pouco de javardão em mim para o fazer em azulejo alheio. Contudo, isto podia ser o primeiro capítulo de um livro temático.
Lavar as mãos pode parecer uma tarefa inconsciente e leviana, mas tem muito que se lhe diga quando é feita fora de casa. Mesmo que existam todas as condições como água e sabão. E algo para as limpar que não sejam (...)
O título induz tanto em erro como eu quando digo que vou chegar a horas. Sejam elas quais forem. Até mesmo quando sou eu que as defino. Ser “pontualmente otimista” pode querer parecer que só sou otimista às vezes, mas não. Eu acordo quase sempre otimista, a sorrir e em silêncio. E é esta felicidade que me afasta de ser pontual.
Eu não sou o otimista que vê o copo meio cheio. Eu vejo copos a transbordar, tal é o sentimento de felicidade que ser otimista me traz. Excepto na (...)
Não sei se alguém me perguntou isto. Costumo estar distraído. Mas já me fizeram parecido, “és peixes, não és? Nota-se”. E eu nem tinha vindo da piscina. Nunca me senti filho único. Pelo menos nos estereótipos típicos do que é ser filho único. Se calhar, é por ter irmãos. Mas é muito provável que não seja, até porque seria informação falsa.
Eu nem tenho o hábito de tratar pessoas por “mano” ou “mana”. E provavelmente também não está relacionado. Eu tenho (...)
Nunca entendi a pressa de sair mais cedo de sítios, excepto na escola e na faculdade. O que explica o porquê de hoje estar onde estou. Andava a fugir de mais conhecimento e inteligência? Talvez. Nunca saberemos. Mas sair mais cedo de concertos ou jogos de futebol? Não faz sentido. Para mim.
O meu primeiro concerto na vida foi no Pavilhão Atlântico, em 2000. Tinha 9 anos e, tal como agora, não sei tocar nada nem cantar, mas o Rui Veloso era mestre nisso. Afinal, ainda há primeiras vezes (...)