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Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Gosto de esperar por coisas: consultas, autocarros, aviões, pessoas. Gosto de esperar quando sei que é apenas uma questão de minutos. Ou horas. Cada espera é uma oportunidade para me agarrar ao livro que levo comigo. Raramente espero, porque não sou pontual, mas nunca ando sem livro.

A vida é muito acelerada para me deixar parado a ler. É algo que faço com muito gosto, não tanto quanto queria, até porque não sei ler em casa, mas isso é outro texto.

Este fim de semana esperei 5 horas por um autocarro e, em mais de metade delas, li. Também li no autocarro. Li até me faltarem as páginas. E nunca faltam. Levo sempre 2 livros para qualquer lado.

A espera por um transporte é o cenário perfeito para ler porque não há mais distrações. O telemóvel que nos pode sugar por horas sem fim, quem sabe até nos perdermos nelas, tem de ser poupado. O bilhete mora lá e é preciso bateria para o mostrar. E quando se chega ao destino, vai continuar a ser preciso para qualquer outra coisa essencial.

“Não precisas de poupar tanto, podes carregar numa ficha”. Verdade, mas nunca me agradou esta dependência por uma fonte de energia. Ficar sem bateria até vira afrodisíaco para abanar a rotina. Menos para mim. Acontece-me tanto que virou rotina. E até gosto da experiência de ficar sem rasto.

Sentado, de perna cruzada e livro na mão, vi quantas tomadas existiam. Cada uma com um telemóvel preso, mas também com o dono perto. Há seguranças mais desatentos que estas pessoas ligadas à corrente da vida que lá guardam.

O jogo das cadeiras estava eletrizante, literalmente. Poucos segundos existiam entre a saída de um carregador para entrar outro. Foi um tira e põe desgovernado. Sempre um de cada vez, todos se queriam lá enfiar. Ao contrário de outras situações, aqui não dá para dois e três ao mesmo tempo. Mas não é por falta de vontade.

Este jogo das cadeiras não tem música. Ainda. Mas é igualmente divertido de observar e nem o livro, que era bom, me agarrava tanto quanto o comportamento humano desta pequena sala de espera, onde só eu parecia não saber os códigos de conduta.

Vi simpatia e discussão, vi cordialidade e falta de educação. Vi uma crónica a escrever-se na minha cabeça. Uma crónica melhor que esta e que já esqueci. Podia ter apontado, mas não quis ceder à pressão da bateria que precisava. Quem faz documentários na savana também não anda a roubar bananas aos gorilas. E mesmo sem ninguém ter batido no peito, saltavam de cadeira em cadeira como se fossem lianas para ficar mais perto do buraco onde se queriam enfiar.

Também há quem não saia de casa sem uma banana no bolso: a powerbank, que também não tenho. Se é para ser “agarrado”, que seja à droga. É igualmente tóxico, cria dependência e a vida parece sempre melhor quando a temos. Acho eu, Ouvi dizer.

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