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Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Nunca entendi a pressa de sair mais cedo de sítios, excepto na escola e na faculdade. O que explica o porquê de hoje estar onde estou. Andava a fugir de mais conhecimento e inteligência? Talvez. Nunca saberemos. Mas sair mais cedo de concertos ou jogos de futebol? Não faz sentido. Para mim.

O meu primeiro concerto na vida foi no Pavilhão Atlântico, em 2000. Tinha 9 anos e, tal como agora, não sei tocar nada nem cantar, mas o Rui Veloso era mestre nisso. Afinal, ainda há primeiras vezes que são mesmo boas.

No fim do concerto e de um enorme aplauso, o senhor ao meu lado foi embora. Talvez fosse boa ideia ser o primeiro a sair para não apanhar trânsito. De pessoas e de carros. E aplaudir pessoas e andar a pé é um bom multitasking. Mas durante o aplauso, o Rui Veloso voltou e deu mais uma hora de concerto.

Os meus pais adoraram, eu também, mas nunca mais fui o mesmo. E quando o concerto acabou de vez, não conseguia parar de pensar no senhor que perdeu tanto pela pressa de ir embora. Eu não sei se ele era médico ou bombeiro e teve alguma emergência. Calma, em 2000 ainda não havia um telemóvel por mão e eu não me lembro de ter visto algum.

Portanto, ele pagou bilhete, foi ao concerto e só viu metade. Mas será que ele soube que não viu tudo? 24 anos depois ainda há pessoas a fazer o mesmo.Acho um desperdício. Não do dinheiro do bilhete, mas sim da experiência. Não gostam assim tanto do que estão a sentir?

O que será que vão fazer estas pessoas com estes 10 minutos de vida que ganham? Olaria? Se sim, tudo bem, mas se for outra coisa qualquer acho parvo. A pressa de sair mais cedo é querer andar a vida toda a correr com medo de perder tempo. E no tempo que ganham, é vida que perdem.

É como ir a um restaurante, comer as entradas, beber um copo, comer meio prato e ir embora. Mas não por não gostarem da comida ou por falta de fome, é mais um estilo de vida. Ou ir ao cinema e sair antes de se revelar o criminoso, ou se o casal fica junto ou não. Serão estas pessoas assim tão bem resolvidas para não quererem saber o final das coisas?

Podia também falar de jogos de futebol, onde qualquer que seja o resultado, há pessoas que vão embora. Não é mau ganhar, nem bom perder, é apenas pressa. E para todos os que saem mais cedo só para fugir à confusão de pessoas e trânsito, fiquem sabendo que eu desejo muito que a reviravolta no jogo, ou um convidado surpresa só apareça nos últimos segundos.

Quem são estas pessoas? Tão apressadas em apressar o fim das coisas? Será que deixam o pão a descongelar mas ainda o comem meio congelado? Cozinham qualquer coisa, mas deixam tudo meio cru porque não há tempo a perder?

A única coisa onde não espero pelo final é a pôr gasolina. Mas não é por não ter tempo a perder, mas sim falta de dinheiro para o encher. Dinheiro que gastei nos concertos que vi até ao fim, mesmo até chegarem os técnicos para desmontar tudo. Quem sabe, até dou uma mãozinha enquanto espero que o trânsito se vá todo embora.

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