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Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Poucos são os dias em que as rotinas são tantas e tão diferentes. Para quem trabalha das 9h às 18h, de segunda à sexta, o domingo é o dia em que podemos experimentar como é a vida de um nómada digital em Portugal. Com carteira de português.

Eu sou desse rebanho que tenta ser útil 5 dias por semana, útil a quem me paga para o ser. Também paga quando não sou. É uma relação esquisita, uma cena capitalista. Não é uma questão de fé, mas trabalho todos os dias como quem vai à missa aos domingos. A empresa é o meu pastor, nada me faltará.

O fim de semana é o momento em que me perco do pastor, do rebanho, e vou, quase sempre perdido, fazer qualquer outra coisa. Sábado é diferente sem o ser. É um dia que ainda cheira a trabalho. Cheira a semana. É um dia para fazer o que o pouco tempo livre dos dias úteis não deixa.

Domingo tem outro encanto, até na hora da despedida. E o meu domingo é o que quero partilhar. Só por ter sido bom. Por acordar sem despertador, por ter vencido a preguiça de estar na cama e ter ido ao yoga. Mesmo sendo uma aula ao 12h. Ser otimista é fazer do mais pequeno esforço uma vitória. Já no yoga, esforcei-me imenso.

Calções de desporto e meias que não combinam, uma camisola de carapuço e um casaco daqueles compridos. Até a minha indumentária cheira a nórdico. Não tanto por ser confusa, mas só pela falta de frio nas pernas. Não é que não tenha, mas prefiro dar uns passos de calções na rua fria do que me despir e vestir tanta vez ao dia.

Podia ter dito outfit, mas para inglês já me chega a aula. O yoga é bilingue, mesmo com uma teacher portuguesa. Mesmo com a maioria dos students portugueses. Só que o yoga é muito à base de imitar os outros. É uma espécie de “um, dois, três, macaquinho do coisinho”.

Flexibilidade em dia no corpo e na mente também para poder almoçar às três da tarde. Num restaurante bonito, só eu, o meu livro e a minha mente louca que raramente me dá descanso. Não sei se os nómadas digitais almoçam muito sozinhos ao fim de semana. Talvez só nos primeiros dias cá, antes de fazer novos amigos.

Almoçar sozinho tem um encanto especial. É um desafio estar sozinho num mundo em que ir ao telemóvel é batota. Almoçar é capaz de ser o nível dois deste desporto onde eu sou campeão. Almoçar sozinho pode ser comum em dias úteis, com o tempo contado e sem tempo para mastigar. Almoçar ao domingo sozinho é diferente. É especialmente bonito. Uma espécie de declaração de amor próprio. Porque eu mereço esta espécie de masturbação.

Almoçar sozinho durante a semana é desinteressante até nas conversas que se ouvem nas mesas ao lado. Profissionais e sem grande liberdade porque pode sempre aparecer alguém. Mas ao domingo, aparecer alguém que possa ouvir o que não se devia saber é altamente improvável. Quase tanto como eu hoje ter ouvido um rapaz dizer que teve medo de andar de comboio até aos 20 anos. E só por isto, já valeu a pena.

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