Já te disse que gosto de ti?
Gosto de palavras. De dizer. De escrever. Mas há imagens que valem mais que mil palavras, só não sei quanto vale o meu olhar. E por mais óbvio que seja, como te vejo, só não sabes se não quiseres. Eu bem te olho, mas quase sempre de óculos de sol.
Há quem tenha o coração na boca. O meu salta à vista. Não deixo que o sentimento me fuja por entre os dentes, mas tenho sempre as emoções à flor da íris. Seja no que quero dizer, ou no que ouço, sinto muito não reagir tanto quanto o que sinto em excesso.
Mas isto não é uma crónica de um romântico com falta de coragem, é apenas sobre amor, palavras e amor nas palavras. É por isso que uma pergunta tão simples, como “queres vir?”, me pode emocionar muito mais que as possibilidades de resposta.
“Bora” é um sim com entusiasmo e cheio de vontade, é a felicidade do que ainda não aconteceu. “Quero” é um sim com pragmatismo, com a desconfiança saudável e inconsciente do que poderá ser. “Pode ser” é um sim, sem força e esperança, é um frete com data marcada. É um sim “já que não tenho nada melhor que fazer”. Mas tendo em conta que há tanto para fazer a toda a hora, quase que pode ser um sim elogioso, mas não acho.
A conclusão foi sempre a mesma. É para ir. Mas a energia e a emoção com que se vai , e a que sente antes de ir, são incomparáveis. E nem interessa muito o destino, visto que ainda se vendem canecas a dizer que o importante é a viagem, ou seja, a companhia.
É este o meu amor, doentio, pelas palavras e pela emoção que carregam. Ainda mais hoje, que todos escrevemos tanto uns para os outros, com mais ou menos cuidado, mas sempre conscientes que a forma de escrever é também uma janela para a personalidade. Ou para o estado de espírito. Ou para os dois.
É claro que um “pode ser” de 3 pessoas diferentes não significam, nem de perto nem de longe, o mesmo. Cada pessoa tem a sua forma de escrever habitual e a mudança traz suspeita. Pelo menos a mim, que me desfoco das palavras ditas para me focar nas escritas.
O estilo de escrita é a inconsciente na ponta dos dedos, mas alterá-lo pode ser uma chamada de atenção. É fácil alterá-la intencionalmente para manifestar qualquer coisa, mas não é isso que me interessa. São os pormenores. As vírgulas. Os pontos finais. Os emojis e a falta deles. Tudo o que é hábito se sente normal, mas é no erro que está o encanto.
E nem é no erro ortográfico. Esse interessa-me pouco nesta análise emocional, natural, e muito sem querer que faço de cada um. Mas já que faço este desvio, quem se diz “nazi da gramática” está sempre a criticar ortografia. É muito diferente. E indiferente por agora.
É por isto que gosto de repetir que gosto de ti. É a minha forma de te contar o que os meus olhos gritam sempre que te vêem. A ti. A ela. A ele. Quero tanto dizer que gosto de ti que só deixo as palavras sair quando estou longe. Tudo para não perder um segundo de ti.