Era uma vez um livro (que eu escrevi) #01
Faz hoje 1 ano que o meu primeiro livro foi publicado. Digo primeiro, mas talvez esteja a enganar quem lê, incluindo a mim. De facto, foi o primeiro, mas não há nenhum segundo no horizonte. Nem nas notas do telemóvel. É o meu livro. O único. Quiçá o último. E mesmo que não seja, queria só usar a palavra “quiçá” algures.
Escrever uma crónica sobre um livro de poesia é confuso, eu sei. Mas durante este ano inteiro, o livro está na categoria de “contos”. Tudo faz pouco sentido, mas como não tenho jeito para bolos, escrevo isto. Podia ser autopromoção, e talvez seja, mas prefiro focar-me no carácter comemorativo do momento.
Nunca tinha pensado em escrever um livro. Também nunca tinha dito que o ia evitar. Gosto de deixar tudo em aberto. Mas sempre que alguém me perguntava se não era um objetivo ou um sonho, eu só dizia que era demasiado compromisso para mim. Gosto de rapidinhas e não de coisas que demoram muito a acabar. E isto ainda é sobre escrever.
Na minha cabeça, escrever um livro seria gastar tempo que não tenho a pensar numa história, num enredo, personagens, reviravoltas e cenários. Que cansaço só de pensar. Até que o meu próprio cérebro me atraiçoou no banho com um título. “Letras na Gaveta”.
Eu ainda nem tinha espremido o frasco de shampô no cabelo e já me estava a coçar com tão bela ideia atrás da orelha. Achei o nome giro. Um título giro. Mas para quê se as minhas gavetas só têm boxers, meias e espaço vazio? Podia ser o título de um livro, pensei, enquanto já imaginava a capa e contracapa de um livro que continuava sem propósito e carregado de páginas brancas.
O tempo de lavar o cabelo e esfregar-me em gel de banho foi suficiente para idealizar tudo, mas precisava de mais hidratação mental e coloquei amaciador. Sempre ganhava uns minutos. E foi nesse intervalo que me pareceu boa ideia escrever 100 poemas, em 10 categorias distintas. E puff, não se fez o chocapic, mas nascia o meu livro. Ou a ideia de o escrever.
Sempre gostei de poesia, mas só daquela que me atropela a meio da rua quando não estou à espera. Aquela frase solta que dá sentido ao dia, aquela rima que soa a música nos meus ouvidos, aquela quadra que se está a escrever sozinha. Só depois de uma inspiração espontânea é que arranco para mais versos e mais quadras, e mais tercetos, e mais daquilo que faz um poema.
Começar do zero não me parecia boa ideia, até me lembrar que tinha, de facto, alguns poemas escritos num blog abandonado. Eram letras numa gaveta digital. Fui buscá-los, escolhi os melhores e reescrevi os que tinham o potencial que o meu eu passado não sabia tratar. Juntei tudo e contei 23. Faltam 77. Que exagero.
Vou pensar nas categorias. E criei 7. Que é um número primo. E 23 também. E os meus pais também. E foi assim que abandonei a ideia gasta dos 100 poemas para escrever 41. Ou 43? Já não sei, mas também vou deixar isto em aberto até à próxima segunda-feira.