Egocêntrico “só” por um dia
Fazer anos é uma espécie de casamento sem par. É a oportunidade para estar junto das pessoas que mais gostamos, principalmente das que vemos menos. É como um funeral, a única diferença é que também estarei presente, mas tal como em muitos outros eventos, estou distraído e não ouço nada.
O jantar de aniversário fica entre o casamento e o funeral. Não há tantas desculpas para convites que puxam pela culpa de não faltar a uma “data importante”. Para faltar a um funeral, há desculpas a mais e, mais importante, quem “convida” não se importa com quem vai ou não.
É sempre mais fácil rejeitar um café num qualquer sábado de chuva que desiludir quem nos convida para estas festas, mesmo que não exista bolo nem velas. Aniversários e casamentos são uma espécie de egocentrismo que desvalorizamos, uma vez por ano ou uma vez na vida. Até porque egocentrismo em doses elevadas aborrece muita gente.
Talvez o casamento não seja egocentrismo porque à partida são duas pessoas a convidar, mesmo que cada um convide os seus. Aniversários já tenho muitos em meu nome, casamentos é que não. Já como convidado, vou sempre.
Por mais que goste do meu dia de anos e de juntar à volta de uma mesa as pessoas que mais gosto, não gosto de ser o centro das atenções para muitas pessoas. Mesmo que me ignorem o tempo todo, sei que estão lá por mim e isso já é emoção a mais. Por um lado, quero estar com todos, por outro não quero que estejam todos de olho em mim. Este egocentrismo, tal como em muitas das coisas que faço, faço sem compromisso.
O que mais se ouve no pós-casamento é que foi incrível, mas “não tive quase tempo nenhum com ninguém”. É o mesmo que sinto em cada aniversário. Sinto-me momentaneamente frágil porque “dou-me com toda a gente, não me dou a ninguém”.
A diferença é que me dou, dou muito, dou tudo. Isto parece muito mais intenso do que realmente é. E sou. Mas já que estou a escassos minutos de fazer anos, acho que posso.
Pode também dizer-se que, isto que faço aqui, escrever num blog público também é egocentrismo. Que seja. Estou confortável com ambos. É a escrever que limpo a cloud de ideias que tenho e assim criar espaço para todas as memórias que ainda tenho para viver.
Não gosto de escrever estas frases pseudo-sentimentalistas que parecem gastas e já escritas por mais de mil treinadores de auto-ajuda. Mas também me acontece. Tal como no dia que se segue, nem sempre é tudo como eu quero. E ainda bem.
O ano passado foi impossível ser egocêntrico. Dividir atenções com os Óscares e com as eleições nacionais até foi bom. Mesmo se quisesse, não conseguia ser o centro das atenções. Foi ótimo sentir-me importante só em pequenas doses.
E amanhã? Que já é hoje? Em que distrações me distraio para não me sentir o sol no mundo de quem me rodeia? Partilhar o dia com a Olivia Wilde e o Bad Bunny já me chega. Também é o dia da Sharon Stone e do Bin Laden. Cada um apoia-se onde quiser.