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Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Já muito se escreveu sobre o tema, tanto que já nem faz sentido, mas só agora concluí o mais óbvio. Acho que o novo acordo ortográfico é o que melhor honra e caracteriza Portugal. Uns respeitem tudo, outros só algumas coisas, e outros rejeitam por completo. 

Eu escrevo pára com acento porque sem não faz sentido, é confuso e estúpido. Escrevo ótimo sem p porque não me chateia assim tanto. Para mim, o novo acordo ortográfico é como um semáforo, às vezes acelero a fundo, noutras travo. Tenho mil e um exemplos, mas a única palavra que me interessa é o rabo, na forma mais curta e grossa: cú.

Cú é curto, é rápido, é intenso, é bom, semântica e fisicamente. Cu é desinteressado, tímido, flácido e sem confiança. E, apesar de o meu ser cu, faço questão de colocar o acento no cú que não precisa de assento para ficar firme. Curiosamente, há quem prefira enviar o acordo no cu de quem o fez.

O acordo que gera desacordo é o perfeito retrato da escrita dos portugueses. Foi a forma mais democrática para acabar com os nazis da ortografia. Eu sei que é mais comum dizer “nazi da gramática”, mas está errado. Gralhas e palavras mal escritas são ortografia, gramática é outra coisa. Merda, se calhar sou o Hitler disto.

Hoje, toda a gente escreve a toda a hora em todo o lado. Antes do acordo, existiam dois tipos de pessoas: as que escrevem sem erros e as criativas, que inventam palavras e conjugações verbais. A partir do acordo, muitos mais começaram a escrever mal.

Agora, existem 4 tipos de pessoas: os que escrevem sem erros no novo acordo, os que escrevem sem erros no antigo, os que misturam os dois, e os criativos que escrevem mal em todos. O novo acordo ortográfico foi a democratização perfeita do espírito literário, outrora snobe e elitista.

Antes do acordo, eram os snobes da literatura, da ortografia, da gramática e os escritores que desprezavam todos aqueles que pouco se importam com erros, desde que a mensagem se entenda. O conteúdo é mais interessante que a forma, certo?

Hoje, todos estes snobes vivem no seu próprio acordo e desceram das prateleiras para errar triunfalmente. Chega até a ser bonito. É só mais uma coisa pouco coerente deste lindo país à beira-mar plantado. Ou será beira mar? Não se leva pau no meio.

Escrever este texto talvez tenha sido um desperdício de tempo. Tal como continuar a falar do acordo ortográfico. Ou de erros. Mais tarde ou mais cedo, há sempre uma gralha que escapa. Quase sempre quando menos esperamos. Tal como tentar deixar cair uma bufa que na realidade é um peido.

Uma metáfora de merda para fechar a crónica sobre um assunto que já cheira mal. 

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