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Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

Crónicas no Bar da Praia

Às segundas, nem sempre sobre bares ou praias.

02 Jun, 2025

A culpa é do Assis

É sempre mais fácil culpar quem já não está cá para se defender. Ou para atacar. Até para ignorar. Aliás, ignorar é das poucas coisas que se consegue fazer enquanto se está morto. Por enquanto.

Não foi por falta de coragem, nem timing. Apenas demorei este tempo todo a perceber o impacto que o Assis ainda tem na minha vida, em quem sou e nas paixões que tenho. E só esteve muito presente no primeiro terço da minha vida. Mas chegou para encher os outros dois.

A paixão inexplicável que sinto pelo Sporting Clube de Portugal, pelo clube, pelas cores, pelo quanto vibro com as emoções de um desporto que gosto tanto, é culpa do Assis. Já chorei de tristeza e de alegria, já estive muito presente e um pouco ausente, até já me afastei de um jogo por ter o ritmo cardíaco mais acelerado que qualquer jogador. E seja qual for o resultado, o amor só cresce. Parece o nariz, que pelo que me dizem, não pára de crescer até cheirar a cova.

Não sei como é que o Assis me deixou assim. É provável que tenha sido pelas infinitas vezes que me levou ao estádio para correr e brincar no relvado com as filhas e filhos dos jogadores, enquanto eles treinavam. Eu mal andava e já fazia galos nos placards publicitários de ferro. Talvez isto esteja relacionado. Pode não ter sido de propósito, mas é culpa do Assis.

O Assis também me levava muito para as praças e bancos de jardim, com a mesma idade. para dar milho aos pombos. Curiosamente, não estou perdidamente apaixonado por essa ideia.

Além disto, o Assis também me ensinou a jogar às cartas: ao peixinho, ao burro e à bisca. Só tinha 3 anos, podia não saber contar até 30, mas sabia que a manilha papa todos menos o ás. E mesmo com os trunfos todos, ganhava-me com batota.

Ensinou-me o que é ser do Sporting, a jogar às cartas e a ser batoteiro. E foi assim que vivi a infância. Pelo menos a jogar às cartas, era sempre campeão. Hoje, já não faço, mas ainda sei. Tenho muito bom perder, algum mau ganhar. E culpo o Assis.

Cresci entre o estádio, o banco de jardim e uma mesa onde jogávamos às cartas. Também tive na ama até ir para a escola, aos 2 anos, mas não deixei de ir com o Assis para esta vida que tanto adoro. A culpa é dele, mas adoro-me assim. Não quero, nem queria, um pedido de desculpas. Mas agradeço tanta vez por ter um pequeno Assis em mim.

E quem é o Assis, esse nome com quem os meus pais me deixavam ir? Para os puritanos da árvore genealógica, o Assis era cunhado da minha avó paterna, casado com uma irmã dela que era madrinha de batismo do meu pai. Ou seja, para os meus pais e tios, era o Tio Assis. Talvez também fosse meu tio, mas estes títulos não me interessam. O Assis era o marido da minha Avó Quina e eu nunca vou saber porque é que não lhe chamava tio, ou avô, já que chamava avó à mulher que não era mãe dos meus pais.

A culpa de eu gostar tanto do Sporting e de jogar às cartas é dele. A culpa do carinho que sinto pela Mouraria também. É dele e da Avó Quina, mas o meu amor por ela é muito maior que isto tudo e fica para outro dia.

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