Ejaculação precoce em larga escala
Um título que não tem nada a ver com intimidade, literalmente falando. Já figurativamente, as metáforas são infinitas. E nada disto é sobre sexo. Se calhar é mais sobre egocentrismo, mas sou fiel ao que penso. Também ejaculo pensamentos por aí.
Quando vou ao estádio, entrando mais cedo ou mais tarde, não me levanto antes do jogo acabar. Seja um bilhete grátis ou pago, fico até ao fim, porque todos os minutos e momentos importam, tudo pode acontecer e, já que lá estou, não quero perder nada.
Também por uma questão de respeito a quem está a dar espetáculo, mesmo quando não está a ser grande coisa. Em boa verdade, expressão esquisita mas enfim, faz-me confusão ver este tipo de abandono. Seja desportivo, musical, ou qualquer outra coisa.
O estereótipo de uma relação sexual heterossexual conta-nos que o homem vem-se e vai-se. Fisica e mentalmente. É a velha história de uma espécie de egocentrismo sobre prazer sexual, “só me importo comigo” mesmo que seja um ato inconsciente. E se for inconsciência, na verdade é falta de sensibilidade e inteligência, emocional e não só.
É só impressão minha ou a saída de eventos é mais ou menos o mesmo? É sair precocemente de um momento, só não é por excesso de entusiasmo.
Há uma espécie de alívio na cara de quem abandona, como que se fosse um prazer. Espero que apenas mental, neste caso. E, pelo que sei, as razões são “fugir ao trânsito”, “chegar mais cedo a casa” ou a outro qualquer lado. É gostar de evitar a experiência por completo.
Será que estas pessoas também pedem meia dose de qualquer prato porque já sabem que não são capazes de levar a refeição até ao fim? É também uma enorme falta de compromisso para com a própria pessoa que, querendo ir ao tal evento, também quer sair mais cedo.
Literalmente falando, ninguém diz que tem ejaculação precoce com alegria. Figurativamente também não, mas aplica-se muito bem aqui. E onde vão com tanta pressa? Serem os primeiros a sair para evitar a confusão é assim tão bom?
Quase que percebo. Também não gosto dessa parte, em que somos muitos a ir na mesma direção, pé ante pé por não haver espaço para mais. A sermos uma espécie de comboio lotado de pessoas cujos pés são as próprias rodas da carruagem.
Valerá a pena ser precoce? Será que compensa? Não estou tentado a experimentar, mas tenho uma curiosidade efervescente de querer saber se são felizes assim, mesmo sabendo que algo incrível aconteceu sem estarem presentes. E o que fazem com esses minutos todos que poupam na saída antecipada? É que eu também não gosto da confusão.
A diferença é que eu não saio mais cedo. Fico até ao fim. Aqui, e noutras vidas.