Amigos, amigos… colegas à parte?
É possível que te tenhas enganado a ler o título. Sobre amizades e negócios, não tenho nada a dizer. Amigos até tenho, negócios não. Falta-me dinheiro para estragar uma amizade, ainda que, na teoria, eu queira ter um bar da praia com amigos. Mais por uma reforma divertida do que pelo “lucro” em si.
Mas a expressão original não deixa de ser curiosa. Pelo menos para mim que perco muito tempo com coisas insignificantes. Que amizades é que não se levam para os negócios? São os amigos do trabalho ou os amigos da vida? E onde entram os amigos de ex-trabalhos? Ou será que nos trabalhos, seremos sempre e só colegas?
Há demasiadas hierarquias e categorias na amizade. Quase tantas como no trabalho. E, na verdade, o que é que define uma amizade? Nem sempre se conhece a origem dos amigos de sempre, mas os que se conhecem no trabalho ficam datados. No coração e no LinkedIn.
Para mim, há amizades profissionais tão grandes como as mais antigas. Não é por acaso que se vulgarizou a “work wife” e o “work husband”. Marido e mulher do trabalho, com ou sem flirt incluído, apenas porque o nível de partilha é muito semelhante, mas sem palmadas no rabo. Imagino eu, que não tenho wife em casa.
E, para mim, há amizades que só funcionam em dias úteis das 9h às 18h. Por maior proximidade e carinho que exista, são as mudanças de trabalho que penduram algumas. E não é por falta de amor. É como emigrar. Deixamos de partilhar os mesmos espaços e a ligação esfuma-se na memória curta do Teams.
Se isto cheira a desabafo, é provável que seja. Um desabafo cheio de saudades por amizades que ficaram mais longe, mesmo quando os escritórios são perto. Será a mudança de trabalho um verdadeiro teste à amizade?
Uma coisa é saber que temos 9h diárias de companhia de uma pessoa querida. Excepto férias. Outra, é ter uma rotina de partilhas fora da obrigação. Para mim que já voltei a escritórios conhecidos, sei que as amizades profissionais ficam só em suspense.
O amor que se vivia entrou em pause até ao meu regresso. Como se fosse uma baixa de parto, pelo menos em duração. Escrevo com saudades, com vontade de abraçar e beijar bochechas. Sempre de forma muito profissional, claro.
Tenho em mim todos os sonhos do mundo, e um deles é aprender a guardar melhor estes amigos que deixo fugir. Do meu coração ninguém sai, mas perco-os no meu olhar. E isto não é apenas uma questão de miopia, que também é muita.
Lamento que as saudades me façam escrever de forma egocêntrica, de um problema que não é problema nenhum. Se calhar tive só muita sorte nas pessoas que encontrei. Ou azar. Este texto está demasiado perto de parecer um desgosto amoroso. Aliás, são vários desgostos, em que cada colega é um pedaço deste coração partido.
Ainda bem que o vazio das saudades de quem perdi fica demasiado cheio de amor pelos que guardei.